quarta-feira, 2 de abril de 2025

abril 02, 2025 - No comments

Uma sociedade feminina criada por "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen



    "Orgulho e Preconceito", um livro de Jane Austen de 1813 e depois transformado em filme por Joe Wright em 2006, foi uma obra que inspirou diversas mulheres durante e após seu lançamento, sendo uma obra que reverberou fortemente na sociedade no período moderno e pós-moderno. 

    Segundo o Jornal da USP, a obra "traz de forma sútil questões sobre a posição da mulher na sociedade, sobre desigualdade de renda e preconceito de classe". Temas relevantes para a sociedade da época e que se mantiveram constantes no período atual pelo incessante conservadorismo que mantêm a mulher em um papel de gênero que está sendo constantemente questionado. Este fato é expressado no papel de Elizabeth Bennet, que se recusa a se casar com qualquer pessoa, sendo levada ao casamento inevitavelmente por meio de uma paixão avassaladora.

    Suas irmãs, no entanto, revelam traços marcantes da época, os quais pregavam que a mulher deveria se casar assim que possível, com uma família importante (de preferência rica). Elas vivam por isso e pensavam somente nisso, uma marca fortíssima do Romantismo. É totalmente plausível dizer que a sociedade atual nunca superou o Romantismo, sendo uma escola literária e artística que foi levada a outros patamares, principalmente para o audiovisual por meio de novelas e filmes. Não só isso, o romantismo foi cristianizado e continua sendo defendido, mesmo que a sociedade atual não consiga mais abarcar tais padrões dentro dos relacionamentos. Agora o que se vê são os relacionamentos sendo taxados pelo tão famoso termo cunhado por Bauman: amor líquido. 

    Em uma sociedade que não consegue superar o romantismo, tão fortemente empurrado guela abaixon por meio da cultura, e ao mesmo tempo não consegue se localizar de forma individual no que se tornou os padrões de relacionamento atual, o heteropessimismo (sentimento de desilusão, constrangimento ou desesperança em relação a relacionamentos heterossexuais) misturado com esses antigos ideias resulta em uma substância perigosa de se digerir. 

    O que é uma sociedade feminina criada por Orgulho e Preconceito? Uma sociedade formada por mulheres que ao mesmo tempo que convergem para a libertação dos papéis de gênero e para a ampliação de formações acadêmicas e inserção no mercado de trabalho (o que consequentemente tende aumentar as rendas das mulheres e a posição em cargos de liderança), ainda se sustenta em ideais amorosos, nos quais se espera um cavalheiro que trará uma paixão avassaladora e mudará os rumos do heteropessimismo que a mulher se encontra. Muitas vezes o heteropessimosmo é uma consequência, mas outras vezes é uma escolha; independente de como a mulher chegou lá, acredito que a maioria das vezes ela não quer estar nesse lugar, afinal, é normal que as pessoas queiram se relacionar. 

    O heteropessimismo é uma via de mão dupla: ao mesmo tempo que aprisiona pela desilusão e pela desesperança, se cria o anseio da evasão. É neste momento, talvez, que ainda se espera pelo Mr. Darcy, o cavalheiro diferente de todos, que mesmo com sua imperfeição, é passível de mudança e que promete o futuro que sempre sonhamos. Penso como seria se o pessimismo nos ensinasse outra coisa e nos tornasse mulheres mais maduras em vez de desistentes. Penso também como seria se as obras (livro ou filme) nos mostrassem como foi o casamento de Elizabeth com Mr. Darcy, já que ela era uma mulher tão destemida e inteligente e ele um homem tão rígido e de poucas palavras. Ela, uma mulher acostumada a brincar e se divertir com suas irmãs, a ser tão útil em casa cuidando dos animais, que sujava as botas e não se importava em andar muito. Que gostava de ler e dançar nos bailes. Ele, um homem rico acostumado a lidar com transações burocráticas, tão conservador com as maneiras de se fazer as coisas, acostumado a ser fechado pela constante solidão que sua riqueza trazia e a sempre estar tão acima dos outros. Penso que talvez o casamento deles não tenha sido tão bom como todas nós que lemos o livro e assistimos o filme gostaríamos. Fica no nosso imaginário o cenário do casamento perfeito que as obras transmitem e não queremos nos questionar o que deve ter sido depois. 

    Fica para as mulheres modernas lidarem com a consequência do "depois". Lidamos com o "depois" dos nossos pais e do nossos próprios. Sucessivos "depois". Porque sempre achamos que encontramos nosso Mr. Darcy, mas aí eles são uns bostas. O "depois" também não leva em conta uma série de fatores, principalmente o fato de que muitas pessoas não conseguem se relacionar com uma pessoa só e existe essa insistência de que somente de olhar para outra pessoa você já está traindo. Então muitas vezes não olhamos para coisas cruciais que estão implícitas em se relacionar com uma pessoa. O problema está em se relacionar com uma pessoa levando na bagagem só a ilusão e muita fé de que vai dar certo. 

    O romantismo trabalha com o impossível, não atoa suas obras mais famosas estavam ligadas a diferenças de classe, idade, esferas sociais e a personagens que se apaixonavam por pessoas já casadas. É nessa impossibilidade que sempre se encontroa o perigo: o objeto amado não é alcançável, o que resulta em morte ou sofrimento; quando é, nos ensina que com pitadas de humilhação, ilusão e grandes doses de esperança, conseguimos o que queremos. No universo feminino as consequências disso são avassaladoras: resulta em relacionamentos tóxicos, violência contra a mulher e feminicídio. Entre outros tipos de abusos que destroem completamente o psicológico da vítima. 

    Isso me leva ao seguinte questionamento: se os antigos padrões romancistas estão caindo por terra diante da constante desilusão que atinge homens e mulheres ao se relacionarem, o que são os relacionamentos hoje? Não podemos, infelizmente, rotular somente como "amor líquido" e não procurar ferramentas que diminuam o nosso sofrer; não podemos também em hipótese alguma tentar retornar aos padrões conservadores que tanto os cristãos valorizam e que aprisionam mais as mulheres do que os homens, valores que, inclusive, são tão defendidos por homens e não seguidos e que mulheres constantemente tentam se subjugar para não serem preteridas. A falácia do casamento perfeito caiu por terra e é normal, para nós mulheres, conhecermos por meio de outras mulheres, como elas estavam em estado de sofrimento antes de acabarem seus casamentos e encontrarem, infelizmente muito tarde, sua libertação e de sentirem que perderam muito tempo de suas vidas.

    Escrevo esse texto em um contexto atual de um relacionamento saudável e não monogâmico, que questiona constantemente as minhas crenças romancistas, ainda mais que fui criada por Jane Austen e por novelas e filmes que muitas vezes nem eram de romance ou de comédia romântica. Penso: num relacionamento que converge contra os padrões romancistas e não me promete o casamento perfeito, mas me instiga a lidar com a realidade de que tanto eu como meu parceiro sentimos atração por outras pessoas, que me instiga a lidar com o real e com o "depois" já no começo, o que espera-se desse relacionamento? É como um eterno futuro branco, apagado, que os filmes nunca me entregaram. Um futuro que o heteropessimismo e o amor líquido nunca me disseram. Que pode haver fim, como pode não haver também. Que em vez de fim, pode haver transformação e libertação, em vez de sofrimento e o constante lidar com o impossível. Como diz uma letra do Incubus "o amor dói, e às vezes é uma dor boa, que faz eu me sentir vivo", penso como é se sentir vivo apenas pelo prazer de ser dentro do amor e não por lidar sempre com dor.

    A não monogamia me oferece coisas que eu sempre quis, mas é um caminho que todos nós estamos tentando criar como alternativa para nos sentirmos vivos. Tento virar a chave da minha cabeça: abandonar o romantismo nada mais é do que abandonar a cultura que estou inserida. Do mesmo jeito que aprendi, posso desaprender. Logo hoje, que conheci meu Mr. Darcy, mais perfeito do que o do livro, não rico, mas da mesma classe que eu; não sério e duro, mas divertido e brincalhão, que me ama, eu, sendo melhor do que Elizabeth Bennet, tão destemida quanto, mas numa sociedade que posso ser mais. Devo abandonar o ciúmes e a crença que criei na minha cabeça de que o casamento deles foi perfeito, assim como o meu seria, sem compartilhar pelo medo de perder, já que enfim o encontrei. Nesse caminho, penso o tanto de coisas que perderia ao abandonar o romantismo, mas depois desse texto, penso como seria bom deixar ir aquilo que aprisiona a mim e outras mulheres e dar lugar ao futuro que eu posso criar. O medo do desconhecido é tão grande, mas acho que tenho mais medo do que já conheço: essa onda infeliz de romantismo que se instalou na sociedade e que só tem um fim, que é a morte - figurativa ou real. 


 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

dezembro 02, 2024 - No comments

"tem um beijo guardado aí?"

 "tem um beijo guardado aí?"

Era o que meu pai dizia toda vez que chegava em casa do trabalho 

Quando eu escutava o som da sua Kombi 77 chegando 

Eu corria para a fresta do portão para confirmar sua chegada 

Era uma festa, pois eu sempre aguardava para ver o que ele tinha trazido 

As vezes ele trazia balinhas 

As vezes era um saco de pastas de dente 

As vezes um saco cheio de sabonetes

E na semana de compras, eu sempre esperava encontrar goiabada, banana e laranja

Pra fazer aquela salada de frutas 

Eu não gostava quando meu pai trazia:

Marrom glacê, abóbora ou doce de figo

Tem muitas coisas que não gostamos que nosso pai faça 

Como não saber se comunicar 

Não saber vibrar nossas vitórias como gostaríamos 

Esconder suas emoções sem nem pensar sobre isso 

Parecer alheio, distante, avulso, frio e, até mesmo, ausente. 

Chega um momento que nosso pai não é mais o herói que achávamos que era 

E embora a sua linguagem de amor seja me deixar segura e alimentada

Não sinto esse amor fluindo pelas minhas veias 

Talvez porque eu tenha te bloqueado na vida real 

E as camadas de decepção não permitem esse amor entrar 

Minha linguagem de amor não é a mesma 

Lembro quando era fácil, quando era natural 

Quando eu te amava somente por você ser você

Agora que eu cresci, as balinhas não são suficientes 

Gostaria que você fosse diferente 

Mas algumas pessoas quando envelhecem 

Acham que não vale a pena mais mudar 

Por isso eu fui embora 

E não sinto mais vontade de voltar 





sábado, 25 de maio de 2024

maio 25, 2024 - , No comments

Foi em um dia ordinário...

Foi em um dia ordinário, em uma quinta-feira a noite, 

que eu percebi que a vida 

não tem um sentido. 


Não tem uma direção pré-determinada para seguir. 


Quando o amor acabou, pensei:

o que há por vir?

Não se sabe, não se espera, não se calcula

Quando o dia acabou, pensei:

o que haverá amanhã? 

Nada mais que outro dia como o dia de hoje 

Com as mesmas programações, as mesmas ações

pré determinadas: 

o café da manhã, o banho, o trabalho

Quando o ano acabou, pensei:

o que será do ano que vem?

Outro emaranhando de acontecimentos

Determinados pelas condições dos meses

Imposto pelo tempo a expectativa de uma mudança

Chega-se ao fim do ano sem saber o que acontece


Esta vida é uma frequência

uma sucessão de eventos

Porém, sem direção final 

MEANINGLESS


No momento, sinto que não há nada

Nada mesmo, vivo em mim

Vivo de propósito

Não há expectativa do futuro

Há uma eterna enganação:

pensa-se que o futuro é programado

Que seguirá uma ordem 

No fim, o ser muda, nem busca mais aquilo que projetou para o futuro 


Se somos imprevisíveis,

Se a vida é imprevisível

Por que a insistência

De que a vida TEM UM SENTIDO?


Por que eu devo procurá-lo?

Por que as pessoas tem perseguições vazias?

Sonhos que elas nem se perguntam 

como foi parar dentro de suas mentes? 


Por que nos agarramos a sonhos que não são nossos?

Por que damos a vida e o sangue para ter um sentido?

Por que sofremos ansiosos por esse futuro que nunca vem?

E o concretizamos tão veemente e nos tornamos tão tristes no final?


Talvez tenha sido a minha libertação:

pensar que amanhã não haverá nada de bom

Que o ano que vem não me tornará nada melhor

Que amanhã dará tudo certo, ou tudo errado


Não me cabe pensar mais de forma tão diminuta

Apenas gosto desse momento, de apreciar

a calmaria que existe dentro do meu peito

ao pensar, que não tenho nada nem ninguém a me esperar


Gosto da calmaria de pensar que não tenho que chegar lá

Naquele futuro projetado, irreal, falso, herdado

Que não existe, ele não existe

O que existe sou eu, no presente, e totalmente no presente


terça-feira, 25 de outubro de 2022

outubro 25, 2022 - No comments

O Caminho do Mago

 


​Autor – Deepak Chopra.​

"Existe um Mago dentro de todos nós.
Esse Mago tudo vê e tudo sabe.
O Mago está além dos opostos da luz e das trevas, do bem e do mal, do prazer e da dor.
Tudo que o Mago vê tem suas raízes no mundo invisível.
A natureza reflete o estado de alma do Mago.
O corpo e a mente podem adormecer, mas o mago está sempre desperto.
O Mago possui o segredo da imortalidade.
A volta da magia só pode acontecer com o retorno da inocência.
A essência do Mago é a transformação.
Quem sou eu?
É a única pergunta que vale a pena ser feita e a única que jamais é respondida. É seu destino desempenhar uma infinidade de papéis, mas esses papéis não são você. O espírito não é localizado, mas deixa atrás de si uma impressão digital que chamamos de corpo.
Um Mago não acredita ser um evento localizado que sonha com um mundo maior. Um Mago é um mundo que sonha com eventos localizados.
Os Magos não acreditam na morte. À luz da consciência, tudo está vivo! Não existem inícios ou fins. Para o Mago, eles não passam de elaborações mentais. Para viver mais plenamente, é preciso morrer para o passado. As moléculas se dissolvem e se extinguem, mas a consciência sobrevive à morte da matéria na qual ela viaja.
A consciência do Mago é um campo que existe em toda a parte. As correntes de conhecimento contidas no campo são eternas e circulam eternamente. Séculos de conhecimento estão comprimidos em momentos reveladores. Vivemos como ondulações de energia no vasto oceano de energia.
Quando o ego é posto de lado, temos acesso à totalidade da memória. Quando as portas da percepção forem purificadas, você começará a enxergar o mundo invisível: o mundo do Mago.
Existe dentro de você um manancial de vida onde você pode purificar-se e transformar-se. Purificar-se consiste em livrar-se das toxinas da sua vida: emoções tóxicas, pensamentos tóxicos e relacionamentos tóxicos. Todos os corpos vivos, físicos e sutis, são feixes de energia que podem ser diretamente percebidos.
O Mago vive num estado de conhecimento. Esse conhecimento dirige sua própria realização. O campo da consciência se organiza ao redor das nossas intenções. O conhecimento e a intenção são forças. O que você pretende muda o campo ao seu favor. As intenções comprimidas em palavras envolvem o poder mágico.
O Mago não tenta solucionar o mistério da vida. Ele está aqui para vivê-lo.
Todos possuímos um eu-sombra que é a parte da nossa realidade total. A sombra não está presente para magoá-lo e sim para mostrar-lhe onde você está incompleto. Quando a sombra é abraçada, ela pode ser curada. Quando ela é curada, ela se transforma em amor. Quando você puder viver com todas as suas qualidades opostas, você estará vivendo seu eu total como o Mago.
O Mago é o mestre da alquimia. A alquimia é a transformação. É através da alquimia que você começa a busca da perfeição. Você é o mundo. Quando você se transforma, o mundo em que você vive também será transformado.
As metas da busca – o heroísmo, a esperança, a graça e o amor – são a herança do intemporal.
Para invocar a ajuda do Mago, você precisa ser forte na verdade, sem ser teimoso no julgamento.
A sabedoria está viva e é, portanto, sempre imprevisível. A ordem é outra face do caos, o caos é outra face da ordem. A incerteza que você sente interiormente é a porta de entrada para a sabedoria. A insegurança sempre estará com o que busca: ele continua a tropeçar, mas nunca tomba.
A ordem humana é feita de regras. A ordem do Mago não tem regras: ela flui com a natureza da vida.
A realidade da sua experiência é uma imagem especular das suas expectativas. Se você projetar as mesmas imagens todos os dias, sua realidade será a mesma todos os dias. Quando a atenção é perfeita, ela cria ordem e clareza a partir do caos e da confusão.
Os Magos não lamentam a perda, porque a única coisa que pode ser perdida é o irreal. Mesmo que você perca tudo, o real permanecerá. No cascalho da devastação e do desastre estão enterrados tesouros ocultos. Quando você examinar as cinzas, examine bem!
Na medida em que você conhece o amor, você se torna o amor. O amor é mais do que uma emoção. Ele é uma força da natureza e, portanto, tem que conter a verdade. Quando você pronuncia a palavra amor, você pode captar o sentimento, mas a essência não pode ser proferida. O amor mais puro situa-se onde é menos esperado: no desapego.
Além de andar, sonhar e dormir, existem infinitas esferas de consciência. O Mago existe simultaneamente em todas as épocas. O Mago enxerga infinitas versões de cada evento. As linhas retas do tempo são na verdade fios de uma teia que se estende em direção ao infinito.
Os buscadores nunca se perdem, porque o espírito está sempre acenando para eles. Os buscadores recebem continuamente pistas do mundo do espírito. As pessoas comuns chamam essas pistas de coincidências. Não existem coincidências para o Mago. Cada evento existe para expor outra camada da alma.
O espírito deseja conhecê-lo. Para aceitar esse convite, você precisa deixar cair suas defesas. Comece a procurar em seu coração. A gruta do coração é o lar da verdade.
A imortalidade pode ser vivida em meio à mortalidade. O tempo e o intemporal não são opostos. Por abarcar tudo, o intemporal não tem opostos.
No nível do ego, nos esforçamos para resolver nossos problemas. O espírito percebe que o problema é o esforço. O Mago tem consciência da batalha entre o ego e o espírito, mas compreende que ambos são imortais e não podem morrer. Cada aspecto seu é imortal, até mesmo as partes que você julga com mais severidade.
Os Magos jamais condenam o desejo. Foi seguindo seus desejos que eles se tornaram Magos. Todo desejo é criado por algum desejo passado. A cadeia do desejo nunca acaba. Ela é a própria vida. Não considere nenhum desejo inútil ou errado: um dia cada um deles será realizado. Os desejos são sementes que esperam o momento propício para germinar. A partir de uma única semente de desejo, florestas inteiras se desenvolvem. Acalente cada desejo do seu coração, por mais trivial que ele possa parecer. Um dia esses desejos triviais o conduzirão a Deus.
O maior bem que você pode fazer ao mundo é tornar-se um Mago!"



terça-feira, 6 de setembro de 2022

setembro 06, 2022 - No comments

A Terra vista de fora pela primeira vez

 


    Estava assistindo o episódio sobre a Corrida Espacial em um documentário da Netflix chamado "História - direto ao ponto" e me encantei particularmente com a cena do momento exato em que um astronauta está tirando a foto acima, conhecida como a primeira foto da Terra.
     Essa foto foi tirada na missão Apollo 8, que levou o homem a Lua. Antes dessa missão, houve outra, na qual os astronautas apenas orbitaram a Lua. A descrição de um astronauta dessa viagem espacial foi: 

"Eu sei que a Lua é diferente para cada um de nós, eu sei que a minha maior impressão é uma existencia, ampla e solitária e inóspita. Uma vastidão de nada. Faz a gente perceber o que temos na Terra. A Terra daqui é um grande oásis na imensidão do espaço."
    
    Na missão Apollo 8, o astronauta fica tão impressionado com a Terra subindo no horizonte da Lua que pede uma fita colorida para tirar a foto, então nasce a "Earthrise", nome que levou a foto acima.

O astronauta descreve: 

"A terra era a única coisa colorida no universo. Era muito solitário e o universo é totalmente preto. Acho que nos deu uma sensação de: melhor cuidarmos bem dessa bolinha de gude azul"

    Parando pra pensar, os primeiros pensamentos que nossos astronautas tiveram ao observar a Terra de fora foi a sensação de solidão. Assim como acontece no Macrocosmo, acontece no Microcosmo. Acho que a sensação de solidão é uma coisa inerente ao ser, que todos vão sentir ao menos uma vez na vida. Ainda que vivemos em sociedade, somos corpos únicos e assim como a Terra é um corpo único na vastidão do universo convivendo com outros corpos, ela ainda é 1, sozinha no espaço, navegando em uma órbita, cumprindo seu papel, independente e dependente ao mesmo tempo - interdependente. 
    Penso que ao dizer que "é melhor que cuidemos bem dessa bolinha de gude azul", penso que ao dizer que "a Terra é um oásis na imensidão do espaço", alguém que tem uma visão como essa deve ter voltado para a Terra com uma concepção muito diferente de tudo que acontece aqui. Foi a primeira vez que o homem foi capaz de se retirar e se ver de longe, ser um observador da existência. 
    Eu que parto sempre de uma concepção espiritual na hora de refletir sobre as coisas do mundo, tento fazer esse movimento de retirada, de mim, da Terra, sempre que possível, ou pelo menos, sempre que sinto que preciso me desafogar de como as coisas são aqui, da minha forma, em meditação.
    Em um dos marcos na Corrida Espacial, um astronauta ficou fora por tanto tempo (de acordo com o tempo da Terra), que na sua volta ele não teve onde pousar, pois o mundo Soviético estava em Guerra, estava colapsando. Imagine o que é observar a Terra de longe, ver ela pequena, talvez até valorizá-la mais de acordo com a percepção de que ela é a única coisa que temos em anos-luzes no espaço e você voltar encontrando o mundo em guerra. Pense na frustração depois disso de ver o mundo colapsando em poluição, efeito estufa, desacordos políticos, desigualdade, inflações, crises. 
    Talvez se todos nós conseguíssimos sair da Terra e nos observar de longe, seríamos seres humanos melhores. Se conseguíssemos sair de dentro de nós mesmos e observar nossas ações, seríamos mais conscientes, mais prudentes, talvez. Observando que a coletividade é uma ilusão e que somos corpos dividindo um espaço com outros corpos e que por isso deveríamos nos respeitar mais, antes de destruir universos pessoais com nossos egos. Sair da Terra e pensar que deveríamos cuidar mais dela, seria sair do nosso Eu e saber que deveríamos cuidar melhor dele, pois ele é a única coisa que nós temos e que só nós podemos fornecer o oásis para nós mesmos. 
    No final somos a única coisa que temos, assim como a Terra, somos nós: um organismo vivo. Abrigamos dentro de nós todos os elementos dela. Somos filhos dela. Somos ela.